Vamos discutir um pouco sobre CEFALEIAS PRIMÁRIAS incomuns:
1) Cefaleia primária da tosse: rara, ocorre mais em mulheres, na faixa da terceira idade, paciente apresenta uma dor de cabeça desencadeada por tosse ou por alguma manobra tipo Valsalva, sempre pensar em excluir uma causa secundária (hipertensão intracraniana, malformação de Arnold-Chiari I etc). Diagnóstico (ICHD-3): Ao menos 2 episódios de cefaleia repentina iniciada por tosse, força ou manobra de Valsalva, dura de 1 segundo a 2 horas e não apresenta nenhum diagnóstico mais compatível. Pode ser bi ou unilateral, com qualidade da dor de vários padrões possíveis (pressão, explosiva etc). Na maioria dos casos dura apenas alguns segundos. Mecanismo incerto. Manejo: se os sintomas atrapalharem as atividades de vida diária do paciente, considerar punção liquórica de alívio, assim como terapia com indometacina ou acetazolamida.
2) Cefaleia primária associada a atividade sexual: rara, mais comum em homens, associada a pacientes com migrânea em 30% dos casos, ocorre remissão em alguns meses, mas alguns pacientes podem desenvolver forma crônica ou recorrência. Sempre descartar causas secundárias de cefaleia nos casos de cefaleia de início recente pela atividade sexual. Diagnóstico: ao menos 2 episódios, cefaleia ocorrendo durante a atividade sexual, que dura de 1 minuto até 24 horas com intensidade importante de dor, ou até 72h com intensidade mais moderada. Tratamento: orientações sobre a benignidade do quadro, boa parte dos pacientes apresenta remissão, em caso de incômodo com a situação, opções terapêuticas são: tomar indometacina 30 minutos antes da relação sexual. Em caso de crônificação, pode-se tentar tratamento profilático com beta bloqueador.
3) Cefaleia primária da atividade física: incomum, ocorre dor de cabeça após atividade física de longa duração e extenuante , tem duração < 48 horas, de caráter pulsátil e é auto-limitada, necessitando de terapêutica por 2 a 6 meses. Associada a ambientes quentes e alterações significantes de altitude. Descartar causas secundárias ao analisar red flags. Responde bem ao uso de indometacina, outra opção são os betabloqueadores.
4) Cefaleia primária em facada: é relativamente comum de forma episódica, 35% da população já teve a experiência em algum momento da vida desse tipo de dor de cabeça. 40% dos pacientes possuem diagnóstico de enxaqueca também, mais comum em mulheres e na idade adulta jovem.
Diagnóstico: Sensação de facada por alguns segundos, com frequência irregular, de um a vários episódios por dia. Não apresenta sintomas autonômicos. Não é desencadeado por estímulos externos.
Fazer sempre diagnóstico diferencial com nevralgia do trigêmio, SUNA, SUNCT.
Terapêutica com indometacina se alta frequência da dor.
5) Cefaleia numular: rara, dor na cabeça ou disestesia em uma região fixa, pequena, em formato de moeda. Mais comum em mulheres. Pode ser desencadeada por estímulos externos. Nas crises, usar analgésicos.
Autora do texto:
Dra Laura Montouro CRM 209 778 SP
Residente em Neurologia pela FAMERP
Referência bibliográfica:
Unusual Headache Disorders. Amaal Jilani Starling, MD, FAHSHeadache. Continuum, p. 1192-1208. August 2018, Vol.24, No.4. doi: 10.1212/CON.0000000000000636
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