O ultrassom focalizado (UF) é um instrumento descrito como modalidade cirúrgica terapêutica em meados da década de 40, com atuação nas doenças neurológicas a partir da década de 60, trata-se de um procedimento minimamente invasivo, pois objetiva realizar uma lesão tecidual focal na estrutura desejada, assim poupando as estruturas adjacentes de destruição celular, diferentemente de uma cirurgia aberta tradicional.
No final deste ano de 2020, foi publicado em uma das maiores revistas de impacto na Medicina, New England Journal of Medicine (NEJM), um ensaio randomizado utilizando esta modalidade para tratar sintomas motores em pacientes com doença de Parkinson. O estudo selecionou 40 pacientes, sendo que 27 foram selecionados para o procedimento ultrassonográfico e 13 pacientes para o braço de procedimento 'simulado' - onde não foi empregado o ultrassom.
Foram selecionados pacientes com doença de Parkinson marcadamente assimétrica que tinham sinais motores não totalmente controlados por medicação ou que eram inelegíveis para cirurgia de estimulação cerebral profunda para serem submetidos a subtalamotomia de ultrassom focalizado no lado oposto aos seus principais sinais motores ou um procedimento simulado.
O desfecho primário, ou seja o parâmetro para análise dos efeitos após o procedimento, foi a alteração no escore chamado MDS-UPDRS III no pior lado do corpo com sintomas da doença (Pontuação varia de 0 a 44, sendo que quanto maior a pontuação, pior os sintomas parkinsonianos) após 4 meses da intervenção. A análise estastística revelou diminuição significativa dos sintomas motores na terapia com ultrassom focalizado em relação ao procedimento simulado, principalmente mais nos sintomas de tremores e rigidez do que na bradicinesia.
Os efeitos adversos sinalizados pelo estudo foram: distúrbios da fala e da marcha, fraqueza no lado tratado e discinesia, apenas 6 pacientes permaneceram com efeitos adversos após 12 meses.
O desfecho analisado teve resultados semelhantes a outro tratamento cirúrgico - subtalamotomia estereotáxica por radiofrequência.
ULTRASSOM FOCALIZADO - FOCUSED ULTRASOUND
O uso do UF na Neurologia/Neurocirurgia segundo a Focused Ultrasound Foundation:
- Com aprovações por instituições governamentais de saúde, como FDA por exemplo:
Depressão, tremor essencial, dor neuropática, transtorno obssesivo compulsivo, doença de Parkinson e nevralgia do trigêmio.
- Em fase de estudos clínicos:
Vício em opióides, doença de alzheimer, esclerose lateral amiotrófica, tumores cerebrais, demências, depressão, epilepsia, tremor de Holmes, doença de Huntington, alterações do humor, esclerose múltipla, neuropatias, lesão cerebral traumática, tremor ortostático etc.
Figura 1. Ilustração realizada por Amanda Buch sobre o ultrassom focalizado. Retirado de: http://www.vabioethics.com/content/2016/9/2/focused-ultrasound-now-fda-approved
Para mais informações sobre o UF, indico que visite o site da Fundação do Ultrassom Focalizado: https://www.fusfoundation.org/
Referências Bibliográficas
1. R. Martínez‑Fernández, J.U. Máñez‑Miró, R. Rodríguez‑Rojas et al. Randomized Trial of Focused Ultrasound Subthalamotomy
for Parkinson’s Disease. N Engl J Med 2020; 383:2501-2513
2. Marino Jr, R. ULTRASSOM FOCALIZADO: NOVA ARMA TERAPÊUTICA NA CIRURGIA ESTEREOTÁXICA. Arq. Neuro-psiquiat 1967; 25: 227-234
3. Neurological. Focused Ultrasound Foundation. Acess on: https://www.fusfoundation.org/diseases-and-conditions/neurological
Autora da postagem
Laura Montouro. CRM 209.778 SP.
Médica residente em Neurologia pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP).
Comments